Como reverter um erro no trabalho?
E-mail enviado por um leitor: “Já é um clichê ler textos de coaches falando sobre aprender com os próprios erros... Mas o fato é que ninguém gosta de cometer erros ou fracassar em alguma tarefa, missão ou projeto. Assim acho difícil considerar o lado positivo dos erros, ainda mais em um mercado cada vez mais competitivo. Lógico que ninguém dai de casa de manhã decidido a cometer erros no trabalho. Quando eu cometer um erro, há um caminho no qual eu possa me apoiar no meu ser interno. E no âmbito da minha relação com o meu chefe... o que faço? É possível reverter um erro no ambiente de trabalho? Obrigado.”
Resposta:
A tolerância ao erro!
Que delícia de pergunta! Amei, obrigada!
Uma chance para adivinhar com qual palavra vou começar a minha resposta para você?
Autoconhecimento! Pois é! E a segunda, ou 2 delas: amor próprio!
Sabe por qual motivo digo isso? Pois, quando nos conhecemos, aceitamos que não somos perfeitos e que errar faz parte do processo de viver, é intrínseco, não há como escapar! Ainda mais em um ambiente corporativo, em que passamos a maior parte dos nossos dias, em relacionamento com pessoas tão diferentes, cercados por tantos desafios e pressão.
E que sem graça seria a vida perfeita, né?
Por isso sempre indico que se faça terapia, coaching e outros processos para entrar em contato com seu “eu interior”, se aceitando e se livrando do peso da perfeição. Quanto mais nos conhecemos, não apenas mais nos aceitamos, mas também sabemos quais são nossos “calcanhares de Aquiles”, passando até mesmo a usar mais a intuição quando sentimos que estamos próximos de fazer uma burrada, risos.
E que bom que virou clichê!
Não é à toa que virou clichê, como você cita, afinal, é realmente importante aceitarmos nosso lado frágil, nossa vulnerabilidade e, portanto, nossos erros. Devido a isso, esse tema tem sido tão estimulado, para que possamos deixar de lado o chicote que impomos aos nossos lombos e que as empresas, por anos, seguraram em cima dos seus colaboradores.
Pare para pensar: cometemos erros o dia todo e devemos nos perdoar igualmente. Não é errado pensar que somente assim aprendemos e que assim também conseguimos conhecer mais da nossa sombra, do lado que ninguém quer ver e muito menos aceitar (spoiler: quanto mais escondemos o nosso “lado negro da força”, mas ele nos cutuca, sabia!?)
As empresas demoraram, mas, perceberam a importância da aceitação do erro, pois, aquelas que despertaram para a nova gestão de pessoas, estão implantando processos mais humanos de tolerância ao erro.
De onde vem tamanho medo de errar?
Gostaria que refletisse: de onde vem tamanho medo de errar? Alguma experiência vivida na infância? Crenças limitantes sobre a necessidade de agradar e ser aceito? Por que será que algumas pessoas erram e aceitam isso de maneira mais tranquila, inclusive fazendo dos erros degraus para o sucesso? Clichê de novo, né?
Mas, dá uma olhada nesse link, grandes descobertas surgiram do que, inicialmente, era considerado um erro. https://maonamassa.porvir.org/6-grandes-invencoes-ou-descobertas-que-surgiram-a-partir-de-um-erro
Então, será que estamos realmente livres de cometer equívocos? Será que não dá mesmo para pensar no que pode ser aprendido com eles, no lado “positivo”, como você cita?
E como encarar o erro no ambiente corporativo?
Respondendo à questão que você levanta, a forma de encarar o erro no ambiente corporativo deve ser a mesma de encarar um sucesso, com naturalidade e transparência, afinal, dentro dos acertos também temos pontos a anotar para encarar os próximos desafios e até mesmo imersos nos sucessos estão os fracassos, as tentativas, as adequações. E as boas surpresas!
Entenda que no trabalho esse medo de errar só vai lhe paralisar. Analise uma criança brincando, quantas vezes ela “erra” e começa de novo e quantas vezes ela transforma o erro em uma nova brincadeira ou descoberta? Ela se permite errar da mesma maneira que acertar e, infelizmente, quando crescemos, começamos a podar esse lado criativo em nós mesmos.
A criança não se pune pelo erro, ela o vive apenas, sem julgamentos. Ou seja, uma criança não vê problema em errar, não entende o equivoco com esse peso que os adultos colocam...
Sobre o caminho para se apoiar quando cometer um erro no trabalho, indico a sinceridade, o pedido de ajuda e a aceitação. É libertador entender que acertar e errar são apenas os dois lados da mesma moeda.
Seja honesto com seu líder, afinal, o erro quando não é cometido por falta de caráter deve ser compreendido, dando margem à mudança, à inovação e ao começar de novo, dessa vez com mais informações.
Dentro dos erros moram as oportunidades de acerto
Sigo firmemente no pensamento de que equívocos também podem ser pontos de apoio para acertos ainda maiores, ou seja, troque com seus pares e líder, abrindo o erro e deixando claro que precisa de ajuda para começar de novo.
A não ser que você viva em um ambiente extremamente tóxico, duvido que não vão te ajudar, oferecendo apoio e ideias. Assim, todos aprendem e o ambiente se torna mais leve! Precisamos parar de encarar o ambiente de trabalho com tanto peso, como se fosse um “espaço sagrado da perfeição”, ele é a continuidade da nossa vida, apenas mais um local que frequentamos, aprendemos, ensinamos, acertamos e erramos.
Sabe aquele impulso adolescente que um dia tivemos? Às vezes, ele precisa ser resgatado, sem medo de encarar o fracasso!
Talvez o ambiente em que você esteja inserido no seu trabalho seja intolerante ao erro; que tal então você desbravar esse caminho? Pedir apoio ao RH para ações de incentivo à vulnerabilidade e à tolerância ao erro? Convidar um palestrante para falar sobre o tema, despertando um novo olhar sobre a questão? Acredito que muitas pessoas, umas mais, outras menos, estejam sofrendo como você com essa problemática.
Caso seja um local em que há muita resistência, cabe pensar em mudar de empresa, para um ambiente mais sadio.
Sabe o que aprendi atendendo muitas pessoas e empresas há mais de 20 anos?
Alguns apenas disfarçam melhor seus erros, mas, todo mundo erra, o tempo todo! Sério! É que tem gente que vira mestre do disfarce! E ainda pensam que estão ganhando com isso!
E isso não é papo de psicóloga não, viu? Eu mesma vivi isso na prática e, há uns bons anos, me libertei da necessidade de estar sempre certa! Nossa, foi como se 10 sacos de arroz tivessem sido retirados das minhas costas! Aprendi a admitir, pedir ajuda e seguir adiante... simples assim e fez muito bem à minha saúde mental!
Ah! Recomendo fortemente a você a leitura dos livros da Brené Brown, em especial o “Mais Forte do Que Nunca - Caia. Levante-se. Tente outra vez.”.
Depois volta para me contar!
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Luciane Vecchio
Psicóloga Clínica | Consultora | Mentora | Colunista | Especialista em Desenvolvimento Humano, RH, Empreendedorismo, Carreira e Liderança | Atendimento a Executivos | Revisão de CV e Perfil Campeão LinkedIn
CRP: 06/74914